quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Texto a comentar esta quinta-feira 19

«A Rapariga e a bicicleta», de Ferreira Fernandes, DN, 18/9/13, ler aqui:
Ela telefona-me de longe: "Pai, tens de ir ver Wadjda!" É um filme. O enredo vocês já conhecem: um homem primitivo, brandindo um osso, descobre uma ferramenta... Não, esse é o 2001, Odisseia no Espaço. Desculpem, agora é que é: Wadjda é sobre uma garota saudita cujo sonho era ter uma bicicleta. No fundo, é o que eu vos dizia, vai dar ao mesmo, é a história de uma redenção. Uma pequena pedalada de uma miúda, mas um grande salto para a humanidade. É o primeiro filme todo feito na Arábia Saudita, pela sua única realizadora, Haifaa al Mansour, num país que não tem nenhuma sala de cinema. Claro que não, como dar ensejo a meter numa sala escura homens e mulheres? Para não causar distúrbios, as cenas públicas foram filmadas com as câmaras num camião. Evidentemente, Haifaa al Mansour estava atenta às câmaras e não a conduzir o camião - o que, aliás, não podia; as sauditas não têm direito a carta de condução. Pelo que veem, o filme podia abrir com a trilha sonora do 2001: Odisseia no Espaço, a dramática Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss - é da salvação das trevas que aquele país precisa. Mas, para ir mais direto, o que a música devia ser, mesmo, era La Bicyclette, cantada por Yves Montand. Fala de Paulette, a filha do carteiro, que andava de bicicleta e apaixonava todos os rapazes da aldeia. Tão simples. E Wadjda, o filme, podia cumprir o seu destino: ajudar a que essa simplicidade chegue a mais um país na Terra.

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