(poema-ensaio para João Barrento)
There
must be no distance
between
the poet and his word.
Bakhtine,
que aliás parece lê-se
mal
em russo, atira ao poeta
o
rosto linguístico absoluto
contra
flagrante evidência, e. g.,
o
empréstimo cortês na poesia
antiga,
toda a lírica de récita
e
de canto. O grande dialogista
diga-se
gostava era do romance
e
seus rumores, cria a poesia
pouco
sociável, senão egoísta,
olvidável,
everything that enters...
must
immerse itself in Lethe, and forget
tudo
o que no poema entra mergulha
e a
vida toda antes esquece, lembra
só a si...
language may remember
only
its life in poetic contexts.
Há
um tipo de poeta decerto
apostado
em que a poesia invente
um
mundo que o real não desmente
literal
como ninguém. É Herberto,
exemplo
maior da palavra-erecta-
-ardência.
Não pode o tradutor ser
Herberto
por isso é que Herberto
não
traduz
muda
Herberto
só devém.
Tradutores
se poetas são outra
estirpe
mais rasteira que prospera
em
língua alheia no dizer de outrem
e tem
por regra mais que um senhor.
Vivemos
de não sermos singulares
mas
servos dedicados afinal,
de
ouvidos colados às paredes
de
falares, requintado plural
de glossa, invisíveis vozes amos
nossos;
nós instrumentos díssonos
fragmentos
fáceis – nem
vasos,
vácuos
de
unicidade
intermitentes
veículos
ventríloquos
de
breve
validade.
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